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11/10/2024

O COSTUME DE ATAR A COLA DO CAVALO
Segundo Liliam Argentina, no livro “O cavalo no folclore do Rio Grande do Sul”, o cavalo sem crinas (cerdas) é chamado de “suro”. Cerdas são os pêlos compridos e cerdear é cortar estes pêlos. Atar a cola do animal, não se restringe apenas à sua apresentação em desfiles ou passeio. Na lida campeira existe a necessidade quando o campo está infestado de “espinho de carrapicho”, também conhecido por “abrojo” e o espinho de carneiro. Estes dois são considerados pragas do campo, e obrigam a levantar a cola do cavalo através do atado e alguns campeiros até cortam um pouco, encurtando as crinas.
A expressão "andar de cola atada" já foi utilizada em letras de música e poesias tradicionalistas e remete a um costume antigo do gaúcho campeiro. O hábito nada mais é do que dar nós na cola do cavalo para valorizar a anca e mostrar a doma do animal, além de representar um sinal de capricho. 
“Era mais um hábito e, especialmente, um ornamento, como pode ser o tirador e o lenço ao pescoço”, afirma o crioulista Leônidas de Assis Brasil em texto publicado nos Anais da ABCCC em julho de 1942. Atualmente, a tradição do nó de cola permanece no dia a dia das estâncias e passa de pai para filho. “Se aprende desde pequeno, normalmente fazendo em potros. 
Os antigos costumavam atar a cola para ir ao bolicho nos domingos. Assim como o casal se arrumava, o cavalo também era enfeitado, era um orgulho”, conta o ginete Lindor Collares Luiz que, com prática, domina a técnica e sabe fazer diferentes trançados. Embora o costume venha do campo, não está restrito ao ambiente campeiro e hoje é marca de uma das três principais provas de seleção da raça Crioula, a Marcha de Resistência. Conforme o coordenador da modalidade, Alexandre Selistre, assim como a prova teve origem no Uruguai, o atado de cola também veio de lá. “É difícil enxergar um ginete de marcha que se preze, que se enforquilhe sem antes atar a cola da montaria, é um sinal de capricho”, explica.
Mesmo sendo forte, o simbolismo da prática não é o único ponto que leva domadores, peões e ginetes a atarem a cola dos crioulos. Segundo Selistre, há um conceito popular de que cavalo solto com nó na cola não urina. Na verdade, eles são condicionados a isso por vontade do homem para controlar a necessidade e preservar a higiene das baias. “Depois do treino, antes de ser levado de volta para a cocheira, ele é desencilhado, a cola é desatada e o animal urina sem sujar o local”.
Na marcha, o controle da urina permite, por exemplo, a observação do estado de hidratação do animal. Como durante a prova os animais passam por um período que exige muita resistência, é importante monitorar a condição física após cada etapa. “Pela coloração da urina a equipe técnica e o próprio ginete podem ter ideia de como está o organismo do cavalo”. 
Hábito gera tabus assim como a crença de que cavalo solto com nó na cola não urina foi tabu por muito tempo, o uso da prática em outras provas da raça também gera controvérsias. Há quem tenha receio de atar a cola por pensar que poderá gerar reações durante a disputa (ato que gera punição ao competidor). “O que é um equívoco, pois o que causa reação no animal é o mau uso das esporas e não o nó”, ressalta Selistre. Curiosidades: Existem modos de atar a cola que têm significados e, antigamente, alguns nós também recebiam nomes. Veja alguns: Bailado, Nego Véio, De Capataz, De Passeio em Carrera, Corneta, Moço Bonito ou Três Galho, De Segurança, Uruguaio, De Segurança  e  Nó Ligeiro.   
A tradição diz que um nó bem atado não se desmancha, segue preso até “se pelar as garras”. Embora exista quem utilize elásticos e borrachas, conforme a tradição, o atado é feito apenas com cuspe (ou água). Além de dar sustentação suficiente e ser mais prático, evita que a circulação do sabugo da cola seja prejudicada. Quando correm marcha em outros países, os uruguaios costumam finalizar o atado com fitas nas cores do seu país. A prática simbólica já foi repetida por alguns brasileiros que correram fora do Brasil. (Pesquisa e compilação: Cesar Tomazzini, fonte: O cavalo no Folclore do Rio Grande do Sul, Liliam Argentina, Site da ABCCC).

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