COLUNISTAS
04/04/2025
UM EIXO ESTRATÉGICO
PARA A MOBILIDADE URBANA
Cruzando a cidade de norte a sul, a avenida Presidente Vargas é, sem dúvida, uma das vias mais emblemáticas de Lagoa Vermelha. Sua função vai muito além da ligação entre bairros: ela é artéria vital no deslocamento de moradores, trabalhadores da indústria, transporte escolar, comércio e até trânsito de cargas pesadas.
Com a crescente expansão urbana e industrial nas últimas décadas, a avenida passou de uma via local para um corredor urbano de alta demanda. Isso elevou também os desafios relacionados à sua conservação, segurança viária e funcionalidade.
UMA OBRA MARCANTE,
MAS COM PONTOS DE ATENÇÃO
Inaugurada com grande expectativa após um projeto ambicioso de pavimentação asfáltica e reestruturação viária, a avenida Presidente Vargas foi entregue há cerca de cinco anos. O investimento contemplou não apenas o asfalto, mas também nova sinalização, canteiros, drenagem e mobiliário urbano.
Contudo, o aumento significativo do tráfego - especialmente o tráfego pesado - trouxe efeitos que já começam a ser percebidos por quem transita diariamente pela via. Há trechos que apresentam afundamentos, trincas e desgaste da camada asfáltica. Esses sinais de fadiga colocam em evidência questões técnicas, estruturais e de planejamento que merecem reflexão.
TRÁFEGO PESADO:
UM DESGASTE ANTECIPADO
De acordo com o atual secretário de Obras, Admilson Ferreira da Silva, a deterioração precoce de alguns trechos da avenida está diretamente ligada ao volume e ao tipo de tráfego que circula por ali. “O projeto original, concebido ainda em 2014, não previa o tráfego intenso de caminhões com cargas de até 40 toneladas, que hoje utilizam a via como rota alternativa”, afirmou em recente entrevista ao Folha News.
Veículos pesados, como bitrens carregados com ferro, madeira ou telhas, têm utilizado a via especialmente para desviar da fiscalização da Polícia Rodoviária Federal. Esse fator amplia não apenas o desgaste físico do asfalto, mas também compromete a segurança viária e acelera a necessidade de manutenções corretivas.
GARANTIA E COBRANÇA
À EMPRESA RESPONSÁVEL
Por se tratar de uma obra relativamente recente, a avenida Presidente Vargas ainda está dentro do período de garantia legal - cinco anos. A prefeitura, por meio da secretaria de Obras, já notificou oficialmente a empresa responsável pela execução, cobrando reparos em pontos críticos.
“O engenheiro da empresa responsável pela obra esteve em Lagoa Vermelha para vistoria técnica. Os defeitos foram elencados, e aguardamos agora o cumprimento das obrigações por parte da empreiteira”, declarou Admilson. A expectativa é que os reparos aconteçam ainda em 2025, sem ônus para os cofres públicos.
O DILEMA DA FISCALIZAÇÃO E
A AUSÊNCIA DE LEGISLAÇÃO ESPECÍFICA
Um dos maiores impasses está na limitação de controle sobre o uso da via por veículos pesados. A inexistência de uma legislação municipal que restrinja o tráfego de caminhões por eixos ou peso torna qualquer medida paliativa. Hoje, a Brigada Militar atua pontualmente em blitz na região, mas a ausência de uma estrutura de fiscalização de trânsito municipal dificulta o controle efetivo. “Precisaríamos de um sistema permanente, inclusive com medição de peso e fiscalização eletrônica, para termos eficácia”, avalia o secretário.
PLANEJAR O FUTURO
COM RESPONSABILIDADE
A avenida Presidente Vargas é mais do que um trajeto asfaltado. Ela simboliza o progresso, a expansão e a modernização de Lagoa Vermelha. No entanto, sua preservação exige mais do que manutenção corretiva. Exige planejamento urbano integrado, diálogo entre poder público, iniciativa privada e comunidade.
O desafio é conciliar o crescimento da cidade com a durabilidade das suas infraestruturas. Implica rever o uso das vias, pensar em alternativas de desvio para veículos de grande porte e criar políticas públicas que garantam uma cidade funcional sem comprometer seus investimentos.
UMA REFLEXÃO URBANA NECESSÁRIA
A situação da Presidente Vargas levanta uma discussão importante sobre como planejamos e gerimos nossas cidades. É urgente repensar a mobilidade urbana com foco em sustentabilidade, longevidade das obras e segurança para todos. Cuidar da Avenida Presidente Vargas é, em última instância, cuidar do coração pulsante de Lagoa Vermelha.
GENTIL E A POLARIZAÇÃO EM LAGOA
VERMELHA: UMA REFLEXÃO NECESSÁRIA
A recente entrevista do presidente do PT de Lagoa Vermelha, Gentil Paz Bueno, ao Folha News lança luz sobre um dos debates mais urgentes da política contemporânea: o embate entre direita e esquerda. Mais do que palavras ao vento, Gentil apresenta uma leitura serena, baseada na experiência política, no diálogo e na construção democrática. A seguir, um aprofundamento necessário sobre esse tema, que também reverbera em nossa cidade.
O RADICALISMO NÃO
É UM FENÔMENO ABSOLUTO
Gentil foi direto: “O PT em Lagoa não é radical”. A afirmação, por si, já propõe uma distinção essencial entre a legenda como instituição e a conduta de alguns indivíduos. Nenhum partido é homogêneo. Existem nuances ideológicas, lideranças com posturas distintas e bases de apoio plurais. A atuação da vereadora Paula Castilhos no Legislativo municipal é, para muitos, a expressão de um mandato propositivo, que atua sem confronto e com foco em pautas sociais.
ANTIPETISMO COMO
FENÔMENO CULTURAL
Ao abordar o antipetismo, Gentil toca numa ferida que vai além da crítica política: a construção de estigmas. O discurso anti-PT, muitas vezes irracional, é sustentado por rótulos frágeis como a associação com o “comunismo” - uma narrativa que, embora anacrônica, ainda é reproduzida nos meios mais desinformados. Esse tipo de rejeição automática revela não uma posição ideológica legítima, mas sim uma reação moldada por discursos superficiais e pouco fundamentados.
EDUCAÇÃO POLÍTICA COMO
ANTÍDOTO CONTRA EXTREMISMOS
Gentil defende que a política seja ensinada desde cedo, como um instrumento de transformação. A proposta revela uma compreensão profunda da origem do radicalismo: a ignorância. Cidadãos que não compreendem a função do voto, o papel das instituições ou o conteúdo dos projetos tornam-se mais suscetíveis ao discurso de ódio e à polarização. Educação política não é doutrinação - é formação cívica, é base para o discernimento democrático.
ESQUERDA E DIREITA:
CONCEITOS QUE EVOLUEM
Ao afirmar que “cada um deve defender o que acredita, mas sem agressividade”, Gentil evoca uma ética política baseada no respeito. Ele reconhece que há pessoas competentes em todos os espectros ideológicos, e que a pluralidade é uma virtude da democracia. A polarização excessiva sufoca a moderação e transforma adversários em inimigos - e isso não contribui para a construção de um projeto coletivo de cidade.
RADICALISMO É
A AUSÊNCIA DE PROJETO
O verdadeiro radicalismo, talvez, esteja menos nas bandeiras partidárias e mais na ausência de um plano claro para a cidade. Quando o debate público se resume a ataques e slogans, perde-se o conteúdo. O PT, nas últimas eleições municipais, apresentou candidatura própria e aceitou democraticamente o resultado das urnas. Gentil foi claro: “Vamos apresentar novamente um projeto”. Esse é o jogo democrático - e precisa ser valorizado.
LAGOA VERMELHA E A
MATURIDADE POLÍTICA
Há radicalismo em Lagoa Vermelha? Sim, como em qualquer parte do Brasil. Mas o que diferencia comunidades maduras politicamente é a capacidade de canalizar as divergências em propostas construtivas. A política local precisa valorizar menos os gritos e mais os gestos. Gentil, embora representante de um campo ideológico, demonstrou disposição ao diálogo, reconheceu conquistas de gestões passadas e reafirmou o compromisso com o desenvolvimento da cidade - algo que deveria ser premissa básica para todos os atores públicos, à direita ou à esquerda.
MATURIDADE POLÍTICA
Radicalismo é, antes de tudo, uma recusa ao debate. É a negação do outro. Lagoa Vermelha precisa de maturidade política, de lideranças que compreendam a diferença como força e não como ameaça. Como sugere Gentil Paz Bueno, o caminho é o diálogo, o respeito e a coerência entre discurso e prática. A política que transforma é feita com serenidade, e não com trincheiras.
SAF: MUDANÇA DE PARADIGMA
OU PERDA DE ESSÊNCIA?
A transformação dos clubes brasileiros em Sociedades Anônimas do Futebol (SAFs) tem dividido opiniões entre dirigentes, torcedores e analistas. Para o cônsul do Internacional em Lagoa Vermelha, advogado Carlos Magno Dondé de Oliveira, a discussão vai além de paixões: é estrutural.
Carlos Magno, que representa o Inter em uma das mais tradicionais cidades do interior do Rio Grande do Sul, reconhece que inicialmente via com reservas a proposta. Temia a descaracterização de clubes centenários ao se tornarem apenas ativos empresariais, guiados por cifras, e não mais por identidade. No entanto, sua visão evoluiu com base na observação de mercados consolidados, como o europeu.
“Na Europa, o futebol é um grande negócio há décadas - e funciona. Os clubes mantêm sua história, ídolos e paixão, mesmo sendo empresas. Se lá deu certo, por que aqui não daria?”, pondera.
A NECESSIDADE DE
ESTRUTURA E LIMITES
A grande preocupação, contudo, permanece: quem decide o destino de um clube? Se a SAF for construída sem contrapesos, o risco de um gestor concentrar todas as decisões pode comprometer a democracia interna que muitos clubes ainda preservam. “É preciso garantir que haja conselhos deliberativos, que os sócios continuem com voz ativa, e que o clube não vire apenas uma plataforma de especulação esportiva”, argumenta Carlos.
O modelo SAF, portanto, segundo o cônsul colorado, não é um problema em si. A questão central está na arquitetura jurídica e ética que o acompanha. Trata-se de um novo paradigma, que pode salvar clubes financeiramente combalidos - desde que a alma não seja vendida junto ao balanço.