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Separar o trigo do joio 25/04/2025

Difícil de entender e, às vezes, até impossível, o nosso Brasil está assim - ou continua assim - o país da esperança. Esperança em dias melhores, em mais justiça e igualdade.
Vamos aos fatos e, principalmente, aos números, ainda mais agora, com a aproximação das eleições. A propaganda, em uma projeção superdimensionada, divulga gráficos com avanços impressionantes, mas questionáveis e nem sempre reais.
Afirma-se, em alto e bom som, que o nosso país tem e merece todas as condições para demonstrar grande solidez econômica e justiça social, com inflação controlada, milhões de empregos gerados e a atração de vultuoso capital internacional.
Não se pode afirmar, tampouco seria verdade, que tudo é propaganda enganosa. De fato, são dados que impressionam, mas não se deve esquecer que muita ficção está escondida por trás desses números, e que a maioria deles apresenta pouca ou nenhuma relevância para o futuro e para a justiça social no Brasil.
As estatísticas oficiais sempre esquecem - ou, sendo mais claro, ocultam deliberadamente - que 50% da população brasileira não dispõe de tratamento de esgoto. Os dejetos são lançados “in natura” em rios e mares, ou permanecem a céu aberto, poluindo gravemente o meio ambiente.
Setenta e cinco por cento dos brasileiros são analfabetos funcionais - ou seja, têm dificuldade de leitura e, quando conseguem ler, não compreendem o que leram. Enquanto isso, os professores, que são os responsáveis diretos pela educação, continuam recebendo salários baixíssimos, assistindo a outras categorias do serviço público serem tratadas de forma privilegiada, com remunerações muito superiores e adornadas por polpudos e inexplicáveis “penduricalhos”, que aumentam ainda mais seus ganhos.
Estamos em pleno século XXI. Sabemos dos avanços científicos alcançados no mundo na área da saúde, mas eles beneficiam apenas uma pequena parcela da população. Nós, brasileiros, ainda enfrentamos doenças como tuberculose, dengue, hanseníase, febre amarela - todas comuns em países pobres e subdesenvolvidos. Soma-se a isso a tragédia daqueles que morrem sem atendimento nas filas do SUS e a fome que ainda atinge milhões de pessoas.
Os impostos continuam sendo assustadores, diretos ou indiretos. Paga-se cerca de 40% - ou mais - dos rendimentos em tributos. Para exemplificar: na compra de uma máquina de lavar roupas, 55% do valor é imposto; no sabão em pó, 32,5%.
Ao acendermos uma luz, 39,25% do valor pago vai direto para os cofres públicos. O sonho da casa própria chega a custar o dobro, em razão das diversas taxas e impostos embutidos no valor final.
Na política residem os maiores descalabros, partindo tanto dos eleitos pelo voto quanto dos próprios eleitores. Os eleitos - não todos, mas uma maioria esmagadora - transformam a política em trampolim para enriquecerem a si e aos seus protegidos, valendo-se de meios escusos, chamados de corrupção. Desconhecem ética e honestidade, e, assim, conseguem perpetuar-se em cargos eletivos. Os eleitores - também não todos, mas uma parcela significativa - continuam votando sem critério, vendendo seu bem mais precioso na democracia: o voto. Ou o fazem de maneira irresponsável, esperando recompensas imediatas, esquecendo-se de que o ato político deve buscar o bem coletivo, e não interesses individuais.
Assim, mais uma vez, menosprezamos nossas mazelas, nos preparamos para manter tudo como sempre esteve, esquecendo que todo esse circo montado é patrocinado por nós - o povo - com os impostos e taxas que pagamos. É necessário que nós, brasileiros, pensemos mais sobre nossos direitos e deveres, e saibamos cobrar aquilo que nos é devido.
Principalmente, é urgente qualificar a política por meio de um voto consciente, refletido e responsável. Lembremos sempre que, na política brasileira, o joio tem sido mais numeroso que o trigo. Vamos, portanto, selecionar o trigo - alimento de valor - e lançar o joio ao lixo.

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