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Interrogatório do ex-presidente Jair Bolsonaro 13/06/2025

Iniciou, esta semana no STF, o depoimento de Bolsonaro e outros sete réus em ação sobre suposta trama golpista. Em interrogatório, o ex-presidente admitiu ter discutido “possibilidades” para contestar as eleições de 2022, mas segundo ele, tudo foi dentro da Constituição, o que não configuraria um plano de golpe de Estado. Disse que as reuniões foram movidas por receio das consequências da paralisação de rodovias por caminhoneiros e das manifestações em frente ao Quartel-General do Exército, ambos os movimentos encabeçados por pessoas que não aceitavam a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições. 
Bolsonaro afirmou, porém, que em todas as discussões havia uma grande preocupação em não ultrapassar os limites jurídicos e, vendo que nada poderia ser feito, decidiram abandonar a ideia. De acordo com o presidente, as discussões começaram após o PL peticionar questionamento no Tribunal Superior Eleitoral sobre a lisura das eleições e receber uma multa de R$ 22 milhões. “Quando peticionamos sobre possíveis vulnerabilidades, não foi acolhido e nos surpreendeu uma multa de R$ 22 milhões. Decidimos então encerrar com o TSE qualquer discussão sobre resultado das eleições", afirmou. 
O ex-presidente negou ter editado ou “enxugado” a tal minuta golpista e afirmou que não teve conhecimento sobre o chamado “Plano Punhal Verde e Amarelo”, que previa o assassinato de Luiz Inácio Lula da Silva, Geraldo Alckmin e Alexandre de Moraes. Segundo o ex- presidente, se tivesse tido essa informação, teria “rechaçado e tomado providências de imediato”.
Bolsonaro disse ainda que não havia apoio nem “clima” para avançar em uma tentativa de golpe. Ele chegou a dizer que os apoiadores que pediam intervenção militar após as eleições de 2022 eram "malucos". "Tem sempre uns malucos ali que ficam com aquela ideia de AI-5, intervenção militar. 
Questionado sobre declarações a respeito das urnas eletrônicas, Bolsonaro manteve seu posicionamento de defesa do voto impresso e defende que criticar ou desconfiar do processo eleitoral é um direito democrático. “A crítica, a meu entender, está longe de ser um ataque. A imprensa adora usar a palavra ataque, quando é meu nome que está no balcão. Críticas, no meu entender, são bem-vindas num Estado Democrático de Direito”, afirmou. Bolsonaro levou declarações do ministro do STF Flávio Dino e de deputados de esquerda que questionavam a lisura das urnas, de forma a provar que não era o único a ter dúvidas sobre as eleições. 
No início do depoimento, Bolsonaro pediu desculpas a Moraes por acusar a ele e a outros ministros do Supremo de receber milhões de reais para acobertar fraudes nas eleições. O ex-presidente admitiu não ter nenhum fundamento para as declarações. Questionado por Moraes quais eram os indícios que ele tinha para tais declarações, o ex-chefe do Executivo afirmou: “Não tenho indício nenhum. Tanto é que era uma reunião para não ser gravada, um desabafo, uma retórica que eu usei, se fossem outros ocupando teria falado a mesma coisa, então me desculpe, não tinha essa intenção de acusar de qualquer desvio de conduta dos senhores”. 
O interrogatório teve tom cordial e por vezes descontraído entre Bolsonaro, advogados e Alexandre de Moraes. Em um momento de brincadeira, o ex-presidente chegou a convidar o ministro para compor sua chapa como vice-presidente nas próximas eleições, o que foi declinado por Moraes. Pela Constituição, Bolsonaro poderia exercer direito ao silêncio, mas respondeu a todas as perguntas, tanto do ministro Alexandre, quanto de Luiz Fux, do procurador-geral da República, Paulo Gonet, e de advogados de outros réus. Moraes assegurou no início do depoimento que Bolsonaro tinha o direito de se expressar livremente sobre os fatos e não tinha compromisso com a verdade, já que o interrogatório é também um momento de autodefesa. 

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