COLUNISTAS
Poder da indignação 27/06/2025
Algo que dá prazer - e que eu particularmente gosto - é rever notícias antigas. Dessa forma, consigo avaliar se estamos progredindo, regredindo ou apenas patinando no mesmo lugar.
Voltando ao ano de 2011, em um jornal da capital do nosso estado, o senhor Clávio Schütz escreveu um texto com o título “Nobres e Democratas”, do qual transcrevo um trecho:
“Seria engraçado se não fosse trágico. Um dos motivos de nos tornarmos República foi exatamente acabar com os excessos e privilégios da nobreza. Pois bem, hoje, no regime democrático em que vivemos, os privilégios de algumas classes - especialmente os dos políticos - fariam nossos antigos nobres ficarem ruborizados e tristes pela antiga forma como enganavam o povo e enriqueciam”.
Na mesma data, o senhor José Miguel Bittencourt, técnico industrial e morador de Viamão (RS), escreveu:
“Magistério e Meritocracia... novamente a meritocracia dos professores está em pauta, em que a avaliação é exclusiva dos profissionais acima citados. Para ganhar um aumento ínfimo de salário, são cobradas exigências de primeiro mundo. Num universo da educação em que o ensino é ruim, as escolas são precárias, os alunos fazem o que querem - porque a maioria já sai de casa sem a devida formação familiar - os salários pagos aos educadores são miseráveis. Somente os professores são considerados os vilões, e por este motivo devem ser avaliados para serem meritados ou dispensados, como se fossem culpados por um crime que não cometeram. Não pertencemos ao primeiro mundo, nem seremos desta forma, tampouco com avaliações fajutas”.
Lendo essas pequenas formas de expressar descontentamento e avaliar a situação precária em que vive grande parte do povo brasileiro - lembrando que isso tudo foi escrito no distante ano de 2011 - muitos acreditavam que se tratava do início de uma tomada de consciência e de uma luta por dias melhores.
Infelizmente, pouco mudou. E alguns aspectos, na verdade, pioraram - e muito.
Diariamente, somos envolvidos por propagandas enganosas, promessas não cumpridas, leis mal elaboradas que jamais surtirão efeitos positivos para a população - ao contrário, servem para impedir que a justiça seja feita e beneficiam apenas aqueles que possuem poder econômico para bancar sucessivos recursos, até a prescrição das penas ou a sua atenuação.
Essa é a realidade: notícias diárias de roubos, extorsões, desvios de verbas, licitações fraudulentas e superfaturadas, que na maioria das vezes não resultam em punições exemplares. Raramente temos o prazer de ver a justiça ser feita, com criminosos cumprindo penas justas ou devolvendo os recursos desviados.
Mesmo com o amparo de leis criadas para favorecer o corporativismo, o que se fortalece é a sensação de impunidade. Pior: reforça-se a percepção de que a lei só se impõe a tempo de mandar para a cadeia quem não tem como se defender adequadamente.
Está faltando - e muito - seriedade, responsabilidade e ética na atual situação do nosso país.
No exercício da gestão pública, tem predominado a luta pelo poder, deixando em segundo plano os interesses da população.
A nossa história só será transformada para melhor no dia em que nós, povo, resgatarmos o poder da indignação e passarmos a exigir igualdade, liberdade e honestidade.