COLUNISTAS

04/07/2025

EMPREGO, EVASÃO E ALERTA: O QUE ESTÁ ACONTECENDO EM LAGOA?
Lagoa Vermelha, em sua posição estratégica no Nordeste do Rio Grande do Sul, tem motivos para comemorar. O agronegócio segue pujante, o setor de serviços está em constante expansão, e o distrito industrial abriga empresas que geram empregos e movimentam a economia. No comércio, a diversidade de segmentos aponta para uma cidade viva, dinâmica, com gente empreendedora e força de trabalho qualificada.
Contudo, há um contraponto que não pode ser ignorado: o movimento de saída de pessoas, sobretudo jovens, em busca de oportunidades em outras cidades da região, do Estado e até mesmo fora dele. É crescente o número de lagoenses que se deslocam para municípios como Passo Fundo, Sananduva, Tapejara, Bento Gonçalves, Caxias do Sul e até cidades catarinenses, em busca de colocação no mercado formal, melhores salários ou novas perspectivas profissionais. E o que isso significa?
 
UM SINAL QUE PREOCUPA
Embora os dados oficiais do IBGE indiquem que Lagoa Vermelha mantém um contingente populacional relativamente estável - próximo aos 27 mil habitantes - a percepção prática, vivida no dia a dia por empresários, comerciantes e profissionais de RH, é de que há rotatividade elevada e escassez de mão de obra em algumas funções técnicas e operacionais.
E mais: não se sabe ainda, com clareza, se quem sai está voltando. Falta, até o momento, um levantamento municipal ou regional que monitore esse vai-e-vem de trabalhadores. O risco é que a evasão silenciosa comprometa o desenvolvimento local no médio e longo prazo, sobretudo se for composta por pessoas em idade produtiva e com formação.
 
FALTAM OPORTUNIDADES... OU FALTAM ESTÍMULOS?
A sensação que se impõe é a de que nem sempre faltam vagas, mas faltam estímulos e perspectivas de crescimento profissional. Muitos jovens relatam que, apesar de haver emprego, não vislumbram oportunidades de desenvolvimento, ascensão ou valorização salarial em Lagoa Vermelha. Isso é preocupante.
A cidade precisa, urgentemente, discutir de forma franca que tipo de mercado de trabalho estamos construindo. Quais incentivos há para manter o jovem no campo ou na cidade? Qual é a política de apoio ao primeiro emprego? Onde estão as pontes entre ensino técnico e vagas reais? Qual é a interlocução entre poder público e setor produtivo? Essas perguntas ainda carecem de respostas mais concretas.
 
A RESPONSABILIDADE É COLETIVA
O poder público, através de suas forças vivas - secretarias, conselhos, entidades empresariais, instituições de ensino - precisa olhar com mais atenção para esse fenômeno migratório local. Uma cidade que cresce em setores como o industrial, o agrícola e o de serviços, mas que vê seus filhos partirem, precisa refletir se está realmente oferecendo meios para que todos permaneçam. A falta de uma política pública voltada ao fortalecimento da permanência dos talentos locais, especialmente os mais jovens, pode se tornar um gargalo.
 
DIVISÃO DA DIREITA E A OPORTUNIDADE PERDIDA: UMA REFLEXÃO A PARTIR DO PLEITO DE 2022 EM LAGOA VERMELHA
O resultado das urnas em Lagoa Vermelha na eleição para o Senado Federal, em 2022, oferece mais do que números frios: abre espaço para uma análise estratégica da atuação - ou ausência dela - dos representantes eleitos e da dinâmica interna dos eleitores de direita no município.
Naquele pleito, a candidata Ana Amélia Lemos (PSD), natural de Lagoa Vermelha e nome de forte apelo local, obteve 5.297 votos (37,43%). Já o general Hamilton Mourão (Republicanos), vice-presidente da República à época e candidato do campo bolsonarista mais direto, somou 4.925 votos (34,80%). A terceira colocação ficou com o ex-governador Olívio Dutra (PT), com 3.845 votos (27,17%). Os demais concorrentes tiveram votações residuais.
Os números falam por si: Ana Amélia e Mourão, juntos, ultrapassaram os 10 mil votos em Lagoa Vermelha. A conclusão mais evidente - e talvez mais indigesta - é que a direita dividiu forças de maneira desequilibrada. De um lado, Ana Amélia, com profundo vínculo com a cidade e histórico de serviços prestados como senadora; de outro, Mourão, cuja figura nacional se impôs no embalo da onda bolsonarista.
Mas, passado o entusiasmo eleitoral, é legítimo perguntar: o que fez Mourão por Lagoa Vermelha após eleito senador? Em três anos de mandato, sua presença em pautas regionais é praticamente inexistente. Muito se falou durante a campanha sobre defesa do Rio Grande do Sul, mas pouco - ou quase nada - se concretizou em ações visíveis para os municípios do interior. É difícil, aliás, encontrar alguma intervenção direta sua que tenha beneficiado nossa cidade.
Enquanto isso, Ana Amélia, mesmo não tendo sido eleita senadora, seguiu em atuação política, dialogando com lideranças, defendendo pautas de desenvolvimento e mantendo interlocução com o município. Há quem diga que, se tivesse sido eleita, Lagoa Vermelha teria hoje uma senadora com endereço, sotaque e compromissos locais - algo raro e valioso.
 
REFLEXÃO INEVITÁVEL
Esse cenário abre uma reflexão inevitável: a direita, ao invés de unir-se em torno de um nome forte e com raízes, fragmentou seu eleitorado. Foi eficaz em votos, mas ineficaz em estratégia. O resultado? A eleição de um senador distante da realidade da região e a perda de representatividade direta no Senado Federal. A pergunta que fica é: será que foi o “bolsonarismo”, como fenômeno de massa, que acabou soterrando projetos políticos mais locais e consistentes? Ou foi simplesmente falta de coordenação?
 
MANDATOS NACIONAIS PRECISAM TER RAÍZES
Fica a ponderação. Em política, o entusiasmo momentâneo não substitui a representatividade de fato. E, quando se fala em desenvolvimento municipal e regional, é importante lembrar que mandatos nacionais precisam ter raízes, vínculos e, acima de tudo, presença - algo que nem sempre acompanha os nomes que carregam votos, mas não carregam compromissos efetivos com o chão que pisam.
A eleição de 2022 trouxe uma lição clara para Lagoa Vermelha e para o campo conservador como um todo: sem unidade e visão estratégica, o que se ganha em votos pode se perder em voz.
 
ENTRE APOIOS E DILEMAS: O PP, O PODEMOS E A FORÇA REGIONAL DE RONALDO SANTINI
Foi confirmada, com a habitual discrição estratégica, a pré-candidatura do secretário estadual do Turismo, Ronaldo Santini, à reeleição como deputado estadual em 2026. A decisão, que já era esperada nos bastidores, movimenta forças políticas em Lagoa Vermelha e na região, especialmente pela conexão direta que Santini mantém com o município, onde nasceu, construiu vínculos e segue como uma das lideranças mais presentes nos últimos ciclos políticos.
O fato novo é a expectativa de composição de um amplo time de apoio - o chamado “anual participativo” - que, embora nascido do Podemos, articula-se para contar também com nomes e forças além do partido. Entre eles, chama atenção o aval discreto, mas relevante, do prefeito de Lagoa Vermelha, Eloir Morona (PP), e do vice-prefeito, Alessandro Muliterno (Podemos). Ambos ocupam posições de destaque no atual governo municipal e têm participado diretamente da construção de pontes administrativas com o Estado, muitas das quais viabilizadas por Santini, seja em sua atuação parlamentar, seja como secretário de Estado.
Não é segredo que boa parte da cúpula progressista de Lagoa Vermelha - leia-se, o Progressistas - nutre simpatia pela reeleição de Santini. Há um histórico de entregas, encaminhamentos e apoio técnico que o coloca em posição de credor político em diversas frentes de atuação do município. Recursos destinados à saúde, infraestrutura urbana e projetos culturais, além do próprio protagonismo regional de Santini em pautas estratégicas, ajudam a justificar essa leitura.
 
DILEMA
Contudo, nem tudo é tão simples. Há um impasse político de difícil costura: o nome do assessor parlamentar Sandro Franciscatto, ligado ao deputado federal Covatti Filho, também surge como pré-candidato a deputado estadual pelo Progressistas. Trata-se de um nome com histórico de serviços prestados, trânsito junto à base federal e que, por força do vínculo com a família Covatti, deve angariar importante apoio no município, sobretudo dentro do próprio PP.
A equação é clara: o Progressistas local reconhece o trabalho e a presença de Santini, mas se vê, ao mesmo tempo, vinculado a um compromisso de legenda com Franciscatto. É o dilema entre o apoio político consolidado e o compromisso partidário renovado.
 
ENTENDIMENTO COSTURADO
Em conversa reservada com Santini, ele nos revelou que há sim um entendimento costurado com lideranças do PP, sinalizando que parte significativa do partido poderá apoiá-lo novamente em 2026. A expectativa é de que, até fevereiro de 2026, esse acordo esteja solidificado. E por quê? Porque o tempo é peça-chave nessa engrenagem, e a definição antecipada permite alinhamentos não apenas eleitorais, mas administrativos e estratégicos entre governo estadual, município e base regional.
Fato é que, independentemente dos desfechos, Ronaldo Santini segue sendo, hoje, a principal liderança política de Lagoa Vermelha com atuação estadual. Filho da terra, secretário de Estado, deputado estadual com mandato e ex-deputado federal, Santini tem histórico de presença efetiva e resultados concretos para a região. Seu nome transcende siglas e ocupa espaço real na construção de políticas públicas regionais.
A pergunta que fica é: o Progressistas conseguirá manter coesão entre o pragmatismo do apoio a Santini e a lealdade ao seu próprio candidato? Ou haverá uma divisão silenciosa de votos no município, enfraquecendo ambos os lados?
É uma questão que exigirá, nos próximos meses, mais do que articulação. Exigirá maturidade política, clareza de prioridades e compromisso com os interesses da comunidade lagoense. E Santini, conhecendo bem os bastidores da política gaúcha, sabe que o tempo - e os gestos - farão toda a diferença.
 
ELEIÇÃO ANTECIPADA E O ALERTA DA PULVERIZAÇÃO: OS DEPUTADOS FEDERAIS MAIS VOTADOS EM LAGOA EM 2022
Os dados da eleição de 2022 para deputado federal em Lagoa Vermelha revelam um cenário que se repete a cada quatro anos: a pulverização de votos e a fragilidade da representatividade direta no Congresso Nacional. Na ocasião, Covatti Filho (Progressistas) liderou com folga, recebendo exatos 4.000 votos, o equivalente a 27,46% dos votos válidos para o cargo. A segunda colocação foi do deputado Maurício Dziedricki (Podemos), com 1.134 votos (7,79%), seguido por Pedro Macari (PSDB), filho de Lagoa Vermelha, com 865 votos (5,94%).
O que esses números mostram é uma clara concentração inicial - com Covatti Filho à frente - mas logo seguida por uma intensa dispersão: mais de 300 candidatos a deputado federal e estadual receberam votos em Lagoa Vermelha. Muitos destes parlamentares sequer conhecem a realidade do município e, pior, não retornam após a contagem das urnas. Ainda assim, parte do eleitorado segue optando por nomes distantes, muitas vezes por laços partidários frágeis ou por promessas esporádicas feitas em visitas eleitorais.
 
PESO DO VOTO
É justamente esse o ponto que deve acender um alerta: com a aproximação do pleito de 2026, muitos deputados e pré-candidatos já começaram a circular pelo município, e a movimentação política está claramente antecipada. É legítimo buscar apoios e estabelecer vínculos, mas é fundamental que eleitores, lideranças e setores da comunidade reflitam profundamente sobre o peso de seus votos.
Lagoa Vermelha tem, inclusive, nomes da própria terra que disputam com legitimidade e histórico de serviços prestados, como o caso do deputado estadual Ronaldo Santini (Podemos), secretário de Estado no governo Eduardo Leite, que confirmou sua pré-candidatura à reeleição. Sua atuação, marcada pela destinação de recursos e articulações regionais, reforça a importância de se ter representantes com laços reais com a cidade.
Na disputa por vagas na Câmara Federal, Pedro Macari, PSDB, também filho de Lagoa Vermelha, obteve uma votação expressiva em 2022, mas não se elegeu. Sua presença no pleito mostrou, no entanto, que o município tem capacidade de projetar nomes locais - o que reforça a necessidade de organização política em torno de candidatos com vínculos e compromissos com o município.
Outra questão relevante é a expectativa para saber se o Progressistas conseguirá repetir o desempenho expressivo de Covatti Filho em 2026, especialmente diante de um cenário mais fragmentado e de possíveis disputas internas no campo da direita. Covatti agora é pré-candidato ao governo do Estado. O mesmo vale para o Podemos, que governa o município através do vice-prefeito Alessandro Muliterno e possui representação na Câmara com o vereador Clacir Francisco Bonatto. A sigla, bem estruturada localmente, poderá ser um dos focos de crescimento eleitoral se bem alinhada com seus quadros estaduais e federais.
 
EXCESSO DE CANDIDATURAS
A lição está posta: o excesso de candidaturas votadas no município pode enfraquecer a voz da cidade nos parlamentos. A antecipação das articulações para 2026 deve ser acompanhada com atenção, mas também com responsabilidade. Representatividade não se mede apenas por ideologia ou discurso, mas por presença, retorno e compromisso concreto com a comunidade.
 
BONOTTO VÊ EM COVATTI FILHO O NOME DO PP AO GOVERNO
Em recente entrevista ao Folha News, o ex-prefeito de Lagoa Vermelha e presidente do Progressistas local, Gustavo Bonotto, avaliou que o deputado federal Covatti Filho reúne as credenciais necessárias para liderar o partido em uma candidatura ao governo do Estado em 2026. Segundo ele, há um movimento natural de fortalecimento da figura de Covatti dentro da legenda, tanto pelo trabalho parlamentar quanto pela habilidade de articulação política.
Bonotto argumenta que o Progressistas cresceu nas últimas eleições municipais - passando de 142 para 164 prefeituras no RS - e que o momento exige uma postura de protagonismo nas majoritárias. “Covatti tem o perfil de liderança que o Estado precisa: capacidade de unir diferentes frentes, experiência administrativa e articulação com a esfera federal”, pontuou.
Para o dirigente lagoense, o deputado reúne os atributos que faltaram nas últimas campanhas do PP ao Piratini, além de representar uma renovação dentro da própria legenda. “É hora de parar de discutir nomes para vice e assumir a cabeça de chapa. O partido tem base, estrutura e nomes qualificados. E Covatti Filho é, sem dúvida, uma das opções mais fortes para liderar esse projeto”, afirmou.
A manifestação reforça que o Progressistas começa a se movimentar com mais firmeza no tabuleiro de 2026, especialmente diante da possibilidade de reacomodações entre PL, MDB e União Brasil. 

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