COLUNISTAS
PolÃticos - eleições - “politicagem” 11/07/2025
Está acontecendo neste Brasil de Deus - e nosso também - algo preocupante, às vezes triste, e até mesmo vergonhoso a ponto de constranger quem diz: “sou brasileiro”.
Em todos os níveis, com raras e gratas exceções, nossos governantes - os gestores públicos - têm se caracterizado por exercerem seus mandatos com foco quase exclusivo na reeleição, nas próximas eleições, e muito pouco nas reais necessidades da população. São poucos os que atuam com o olhar voltado à construção de soluções duradouras, que proporcionem dignidade e qualidade de vida para todos.
Há uma confusão grave e prejudicial entre governar e autopromover-se, ou promover seus aliados como futuros candidatos. A eleição tem sido tratada como um palco de propaganda exacerbada, sem limites éticos - e, o que é pior, financiada com verbas públicas oriundas dos impostos pagos pelos cidadãos. Recursos que deveriam estar sendo investidos em áreas como educação, saúde e segurança.
É fácil constatar que, via de regra, nossos deputados e senadores recebem salários polpudos, muito acima do que o povo sequer sonha. E ainda acumulam os famigerados “penduricalhos”, que garantem uma vida digna da nobreza. As visitas às bases eleitorais, alegadamente para “ouvir a população”, na prática são estratégias de campanha antecipada - novamente, custeadas com o nosso dinheiro.
A nós, eleitores - os “pobres mortais”, como alguns preferem dizer - ficam as perguntas que não querem calar:
Por que não reagimos? Por que aceitamos pacificamente essa realidade? Por que continuamos votando mal, reelegendo “figurinhas carimbadas”? Parece que estamos anestesiados por uma engrenagem poderosa e contínua chamada “processo eleitoral”, que nunca se encerra. Termina uma eleição oficial e já se inicia, informalmente, a próxima.
Dá a impressão de que muitos brasileiros se acostumaram a ser enganados, vestem o “nariz de palhaço” com conformismo e renovam, a cada ciclo, um Congresso Nacional repleto de vícios, falhas estruturais, gestores incompetentes e, não raras vezes, corruptos.
No Brasil, o voto é obrigatório aos 18 anos. Aos 16, o cidadão já pode exercer esse direito - embora ainda não possa dirigir um automóvel nem responder criminalmente por seus atos. A obrigatoriedade do voto levanta debates importantes. Um deles foi abordado pelo professor Cláudio Dida, que publicou um estudo destacando a composição do eleitorado brasileiro e apontando as razões do maior número de candidaturas no Sudeste e no Nordeste.
A região Sudeste concentra 43,6% do eleitorado; o Nordeste, 27,1%; o Sul, 15%; o Centro-Oeste, 7,1%. Ou seja, Sudeste e Nordeste somam mais de 70% dos eleitores. Isso, em si, não é surpreendente, mas os dados educacionais revelam um cenário preocupante: 6,13% dos eleitores são analfabetos; 15,3% têm alfabetização funcional precária; apenas 3,6% possuem curso superior completo; 31,8% têm apenas o ensino fundamental incompleto. Esses dados impactam diretamente na qualidade da escolha eleitoral e na vulnerabilidade do processo democrático.
A aceitação, por grande parte da população, do modelo atual de fazer política tem gerado distorções graves. Entre elas, partidos políticos enfraquecidos, usados como moeda de troca em acordos escusos, e leis com múltiplas interpretações, elaboradas com a finalidade velada de criar privilégios e preservar interesses.
As condutas desviantes seguem impunes. Um exemplo gritante: pelo menos 50% dos membros do Conselho de Ética do Senado são alvos de inquéritos no Supremo Tribunal Federal, réus em ações penais ou envolvidos em casos de nepotismo e escândalos como os atos secretos. Tudo isso corrói a confiança do cidadão nas instituições parlamentares e nos gestores públicos.
É urgente que a sociedade se mantenha atenta. A sucessão de episódios de impunidade tem minado a esperança e enfraquecido as bases da cidadania.
Chegou a hora de pressionar por reformas profundas, que resgatem o verdadeiro sentido da política: um ato de amor à liberdade, à igualdade e à construção de dias melhores para todos.