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Gaúcho pêlo-duro 11/07/2025

“Pêlo-duro” é um termo de origem espanhola, utilizado para designar a miscigenação entre o indígena e o branco, tanto de origem espanhola quanto portuguesa.
Essa fusão ocorreu na região pampeana que compreende a Argentina, o Uruguai e o Rio Grande do Sul. Os povos indígenas da região, especialmente os minuanos e charruas, viviam em constante contato com os colonizadores. 
Muitas vezes, eram as mulheres indígenas que se aproximavam dos brancos, atraídas por artefatos como espelhos, pentes, roupas e calçados - objetos que lhes encantavam, mas que não podiam adquirir com moeda. Em troca, ofereciam-se sexualmente, numa lógica de escambo marcada por desigualdades.
Dessa mistura nasceu o mestiço de cabelo grosso e eriçado, que passou a ser chamado de pêlo-duro. Com o tempo, o termo foi deturpado e passou a carregar conotações negativas, sendo usado como sinônimo de “gaúcho bruto, rude, sem educação”.
Mas o verdadeiro gaúcho herdou dos charruas e minuanos a índole andarilha e solitária. Vivia pelos campos, muitas vezes com uma guitarra (violão) atravessada nas costas - o que acabou dando origem ao dito popular nas estâncias de que "quem toca violão é vagabundo".
Poucos percebiam, entretanto, que o próprio violão era um artefato europeu, assim como o cavalo e o gado - introduzidos no Rio Grande do Sul pelos colonizadores brancos, sobretudo pelos jesuítas espanhóis, que teriam trazido o gado vacum por volta de 1634.
A chegada das cercas de arame modificou profundamente a paisagem e o modo de vida. O gaúcho, antes livre, foi impedido de circular pelos campos. Sem rumo certo, passou a se achegar às estâncias, dormindo ao relento, abrigando-se onde podia, e muitas vezes matando ovelhas para se alimentar - deixando os restos no campo.
As cercas obrigaram-no a se adaptar. Passou a aceitar o trabalho de peão, mantendo assim a proximidade com o que mais amava: o cavalo e o gado. Ao cair da noite, no galpão, pegava seu violão e cantava para a lua - numa solidão que também era poesia.
Esse é o Pêlo-Duro: símbolo do gaúcho mestiço, enraizado na terra como o capim. Não sabe gostar de outra vida. Se levado para a cidade, entristece. Na vila, mira o mato e o campo com uma saudade sem tamanho. Fonte: Prof. Beraldo Lopes Figueiredo.

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