COLUNISTAS

18/07/2025

As repercussões na economia gaúcha do “tarifaço” dos EUA 

No espaço para assuntos gerais da reunião de Comissão de Economia, Desenvolvimento Sustentável e do Turismo da Assembleia Legislativa, ocorrida quarta-feira (16), o presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), Cláudio Bier, expôs a avaliação da entidade sobre os impactos a serem gerados ao setor, com a aplicação de tarifas de 50% aos produtos brasileiros pelos Estados Unidos (EUA). 
A reunião foi conduzida pelo deputado Gustavo Victorino (Republicanos), presidente do colegiado.
Conforme Claudio Bier, a taxação trará problemas para todos os setores da sociedade, atingindo diretamente a categoria industrial de exportação, e, em consequência, ao comércio e a sociedade, com possível queda de empregos. Para ele, o momento é de negociação para revogação das tarifas ou o adiamento do prazo de sua validade. Claudio Bier relatou que a Fiergs já se reuniu com entidades similares de Santa Catarina e Paraná e com a Confederação Nacional das Indústrias e com o governo da União, mostrando o impacto da tarifação no Estado e na Região Sul.

 

Mais de mil empresas 
gaúchas serão atingidas
 
O gerente de relações internacionais e comércio exterior da Fiergs, Luciano D Andrea afirmou que no RS há 1.100 empresas exportadoras para os Estados Unidos, que em seu conjunto empregam cerca de 145 mil pessoas.
Entre os setores mais afetados ele listou o tabaco, carnes, celulose, calçados, armas e munições, peças de veículos, jardinagem e madeiras. Ele observou que o segmento de armas e munições é um dos mais proeminentes em exportações para os EUA, chegando a mais de 85% da produção. 
Outro setor mencionado por D Andrea é o de madeira. "Com a taxação podemos ter uma queda de 1,2 bilhões do PIB gaúcho, segundo estudos da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
A Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs) também demonstra preocupação diante do anúncio. Segundo a entidade, os Estados Unidos ocuparam, em 2024, a segunda posição entre os principais destinos das exportações industriais gaúchas, com mais de US$ 1,8 bilhão exportados no ano.
 
Na serra indústrias 
interrompem exportações
 
As exportações de móveis de empresas da Serra do Rio Grande do Sul para os Estados Unidos foram interrompidas após o anúncio da adoção de uma nova tarifa pelo governo norte-americano. 
De acordo com o empresário Matheus Scotton, projetos que demandaram trabalho estão, agora, parados. 
A adoção repentina de uma nova tarifa de importação pelos Estados Unidos jogou uma bomba no setor moveleiro da Serra Gaúcha. Empresas de Bento Gonçalves e Garibaldi interromperam suas exportações, mergulhando o setor em um cenário de incerteza, apreensão e paralisia.
  Em uma das principais fábricas de Bento, 40% das exportações tinham como destino os EUA. Agora, os galpões estão cheios de móveis prontos, mas sem rumo. “Temos encomendas em mar que já foram atingidas pela tarifa. Projetos inteiros estão congelados. O custo é elevado e, neste momento, estamos sem direção”, lamenta Matheus Scotton, empresário do setor.
  O efeito dominó já começou. Euclides Longhi, que exporta para Porto Rico, relata o impacto imediato: “Nosso cliente mandou suspender todos os contêineres. Negociações pararam de uma hora para outra. Isso vai respingar em todo o setor, travar exportações, secar o caixa das empresas e gerar um efeito cascata devastador.”
  Segundo o Sindmóveis, os Estados Unidos representam quase 17% das exportações do polo moveleiro desde o início do ano, o equivalente a US$ 4,5 milhões em faturamento. Com a tarifa, esse número pode despencar - e junto com ele, empregos e renda de centenas de trabalhadores da região.
 
EUA mercado importante 
para os gaúchos
 
O economista-chefe da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Antonio da Luz, diz que ainda é cedo para calcular o impacto desse aumento na tarifa aos produtos gaúchos.
Ainda estamos estudando os impactos. Recebemos isso com muita preocupação. Os Estados Unidos são um mercado importante para nós. Seremos muito impactados, principalmente com a proteína animal. É nosso segundo maior comprador, atrás apenas da China - diz o economista. 
De acordo com a Farsul, os Estados Unidos correspondem a cerca de 10% da exportação agrícola gaúcha. Entre os produtos vendidos ao país estão soja, farelo de soja, fumo, carne de frango, cereais e celulose.
Vice-presidente jurídico da Federação de Entidades Empresariais do RS (Federasul), Milton Terra Machado considerou “lamentável sob todos os aspectos” o aumento na taxação aos produtos brasileiros pelos EUA: 
"Medidas dessa natureza afetam diretamente a previsibilidade e a estabilidade das relações comerciais, comprometendo a competitividade da indústria brasileira. Nosso foco permanece na defesa do livre comércio, do diálogo internacional e da segurança jurídica para as empresas exportadoras do Rio Grande do Sul", diz trecho da nota da Fiergs. 
A entidade completa dizendo que espera uma revisão da medida antes que entre em vigor, no dia 1º de agosto. 
 
Opções do Ministério 
da Agricultura
 
“Telefonei para as principais entidades representativas dos setores mais afetados, o setor de suco de laranja, o setor de carne bovina e o setor de café, para que possamos, juntos, ampliar as ações que já estamos realizando nos dois anos e meio do governo do presidente Lula: em ampliar mercados, reduzir barreiras comerciais e dar oportunidade de crescimento para a agropecuária brasileira.
Neste momento, vou reforçar essas ações, buscando os mercados mais importantes do Oriente Médio, do Sul Asiático e do Sul Global, que têm grande potencial consumidor e podem ser uma alternativa para as exportações brasileiras. As ações diplomáticas do Brasil estão sendo tomadas em reciprocidade. As ações proativas acontecerão aqui no Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), para minimizar os impactos”. (Ministro Carlos Fávaro).
 
Para debater
Ações políticas nos EUA dificultam o retorno da “direita” ao poder no Brasil?
 
Anotações
Uma pesquisa interna do PSDB mostra que há uma distância entre os desejos da militância do partido e o que pensam os principais dirigentes tucanos quando o assunto é a união com outras siglas
O governo Lula escreveu uma carta aos EUA manifestando indignação com a ameaça de sobretaxar em 50% produtos brasileiros.
O presidente Lula reverteu a queda de popularidade em meio ao embate com Trump e à campanha de taxação de super-ricos. A desaprovação do governo recuou de 57% para 53%, e a aprovação passou de 40% para 43%, segundo pesquisa Genial/Quaest.
Segundo a pesquisa, 72% dos brasileiros dizem que Trump está errado sobre o tarifaço, e 74% defendem uma união entre governo e oposição contra a ofensiva americana.
Ministros do STF destacaram o conjunto de provas e as “acusações contundentes” do parecer da Procuradoria-Geral da República que reafirmou o pedido de condenação de Jair Bolsonaro e outros sete réus pela tentativa de golpe de Estado. 
O procurador-geral Paulo Gonet pediu a condenação de Bolsonaro por cinco crimes e vinculou o ex-presidente aos atos golpistas de 8 de janeiro.
Lula veta aumento no número de deputados aprovado pelo Congresso Nacional. Proposta ampliava de 513 para 531 o número de cadeiras na Câmara; deputados queriam que valesse já no pleito de 2026.

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