COLUNISTAS
20 de Setembro 12/09/2025
O nosso estado, hoje chamado Rio Grande do Sul, apresenta em sua colonização uma história bastante diferenciada dos demais estados brasileiros.
Inicialmente, pelas características territoriais, fazíamos parte do chamado Pampa, que se estendia da costa do Oceano Atlântico até a Cordilheira dos Andes, abrangendo as áreas que hoje correspondem ao Uruguai, Argentina e ao Rio Grande do Sul.
Nesta região do Pampa, os primeiros habitantes humanos foram, na bacia do Prata, as tribos dos Charruas e dos Minuanos; já nas florestas subtropicais, viviam os grupos de fala Gê, que precederam os Caingangues. Mais tarde, chegaram os Guaranis, provenientes da Amazônia. Estes apresentavam uma cultura mais adiantada: conheciam rudimentos de horticultura, cultivavam algodão, milho, mandioca, fumo, erva-mate e porongo, além de já terem o hábito de consumir o chimarrão, que chamavam de Caami.
Os primeiros homens brancos de origem europeia a chegar foram os padres espanhóis da Ordem de Jesus (Jesuítas), que atuavam na outra margem do rio Uruguai. Sua missão era evangelizar os indígenas, formando as reduções - pequenos povoados com casas e igrejas. Dedicavam-se também à criação extensiva de animais domésticos e a uma agricultura rudimentar para subsistência.
Naquele período, os produtos de maior valor comercial eram o couro e o sebo bovino. Do couro, produziam botas, sapatos, cintos, roupas, chapéus, bandoleiras, cordas, laços e arreios.
O sebo era utilizado como combustível para lamparinas e como fonte de calor no inverno. Ambos eram exportados para a Europa, o que permitia aos padres acumular grandes fortunas.
Pela região também circulavam aventureiros de diversas nacionalidades, que deixavam suas pátrias em busca de enriquecimento. Muitos se organizavam em quadrilhas e praticavam roubos e saques, tendo como principais alvos as reduções jesuíticas. Diante da crescente violência, os padres transpuseram o rio Uruguai e se instalaram no atual território gaúcho, fundando os Sete Povos das Missões.
Aos poucos, foram avançando pela mata virgem, abrindo picadas, evangelizando indígenas e chegando até a Serra. Ali, o gado encontrou clima favorável: no verão, pastagens; no inverno, frutos e folhas das matas. Assim, bem alimentados, os animais se reproduziam de forma contínua. Muitos fugiam ao controle humano e formavam grandes manadas bravias, conhecidas como gado alçado.
Atraídos por esses rebanhos sem dono, aventureiros portugueses chegaram à região. Caçavam os bovinos alçados, aproveitando inicialmente apenas o couro. Mais tarde, com a expansão das lavouras em São Paulo e Minas Gerais e a necessidade de alimentar a mão de obra escravizada, teve início a industrialização da carne em forma de charque.
Após muitas disputas, batalhas e tratados, os governos de Portugal e Espanha delimitaram as áreas que hoje formam o Uruguai, a Argentina e o Rio Grande do Sul. A industrialização do charque e a instalação de propriedades rurais deram origem a povoados e a um comércio incipiente, impulsionado por tropeiros e mascates.
Da obra do Movimento Tradicionalista Gaúcho Farroupilhas: Ideais, Cidadania e Revolução, destaco o seguinte trecho:
“Uma diferença entre as famílias do norte e nordeste brasileiro em relação às do sul. Mesmo que a figura paterna permaneça como central, no sul a mulher (mãe) não é de mera submissão. As circunstâncias típicas da região determinaram que a mulher assumisse papel diferenciado na família, especialmente na questão do trabalho”.
Foi nesse contexto que se formou o Rio Grande do Sul. Após a Proclamação da Independência do Brasil, em 7 de setembro de 1822, revoltas populares eclodiram em vários estados, sempre motivadas por questões políticas e econômicas. No Rio Grande do Sul, a Revolução Farroupilha foi liderada pelo chamado “partido exaltado”, descontente com o poder centralizador do Império.
Na década de 1830, os estancieiros viviam situação econômica delicada. Seu principal produto, o charque - em grande parte destinado ao abastecimento interno do Brasil - sofria forte concorrência do Uruguai e da Argentina, cujos produtos não eram taxados na importação.
A insatisfação culminou em 20 de setembro de 1835, quando os farroupilhas se rebelaram e, armados, tomaram Porto Alegre. O governo imperial tentou reverter a situação, mas já era tarde demais.
Artigo publicado em 24/09/2010