COLUNISTAS

Um país sem excelências e mordomias 19/09/2025

A semana passada, com o feriado, proporcionou momentos de descontração, oportunidade para colocar o sono em dia e, especialmente, ler até cansar.
Falando em leitura, chegou às minhas mãos um livro que recomendo vivamente: Um país sem Excelências e Mordomias, de autoria da jornalista Cláudia Wallin.
Cláudia é brasileira, radicada na Suécia desde 2003. Graduada em Jornalismo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, é mestre em estudos sobre Rússia e Leste Europeu pela Universidade de Birmingham, na Inglaterra, com formação também em sueco pela Universidade de Estocolmo.
Na obra, a autora faz um paralelo entre as democracias do Brasil e da Suécia. Reproduzo alguns trechos:
“Na Suécia, os políticos ganham pouco, andam de ônibus e bicicleta, cozinham sua comida, lavam e passam suas roupas e são tratados como qualquer cidadão. Mas como isso é possível? Como a democracia pôde se consolidar naquele país gelado, habitado no passado remoto por um bando de selvagens louros, que a lenda descreveu vestindo peles e usando chifres na cabeça?
História, educação, reforma política, construção e defesa de instituições sólidas. A Suécia, há menos de 100 anos, era um país pobre, mas habitado por um povo determinado a sair da pobreza e do atraso. Conseguiu. E o segredo, que não é segredo, é sempre o mesmo: investimento em educação, tecnologia, justiça e projetos nacionais integrados, que levam ao desenvolvimento com igualdade e justiça social.”
Ao contrário, a incipiente democracia brasileira vive uma situação sui generis. Ser político ou alto servidor público tornou-se profissão que confere enormes confortos, mordomias e lucros altíssimos. Empresários viram ministros ou secretários, depois banqueiros. Deputados e senadores, em sua maioria, são empresários ou representantes de corporações.
Nosso sistema de governo, uma República Presidencialista, funciona com Executivo, Legislativo e Judiciário - mas de forma confusa: o Judiciário legisla, o Legislativo participa do Executivo nomeando ministros e altos funcionários, e a res publica (a coisa pública) se transforma em propriedade privada de pessoas, grupos e corporações.
E as mordomias? No Brasil, ser vereador, deputado, senador, ministro ou juiz de alta corte significa receber, além de salários elevados, uma infinidade de privilégios: automóveis oficiais, motoristas, assessores, jatinhos, diárias, férias prolongadas, viagens internacionais, verbas extras, moradia em mansões e até palácios. Muitos benefícios sequer vêm a público.
Pois bem, o que trouxe aqui são apenas alguns tópicos do livro Um País sem Excelências e Mordomias. Digo mais: todo brasileiro, inclusive aqueles que ocupam cargos públicos, deveria lê-lo. Ficaria ainda mais claro o tamanho da injustiça a que estamos submetidos. Vivemos sob uma oligarquia danosa, responsável pelos enormes desajustes sociais em que poucos têm muito e muitos têm pouco.
Quem ainda duvida, que observe os dados da Oxfam, entidade internacional respeitada: no Brasil, seis pessoas concentram riqueza equivalente à de 100 milhões de brasileiros mais pobres. Os 5% mais ricos detêm a mesma fatia de renda que os demais 95%.
Chegou a hora de dar um basta. Essa situação não pode continuar. É preciso pensar nas próximas gerações, pois, a seguir nesse rumo, o que restará será uma terra arrasada.

Outras colunas deste Autor