COLUNISTAS
Nós, o povo 10/10/2025
Nós, aqueles que branquearam os cabelos pela ação dos anos vividos - e não pelo efeito das tinturas -, já vimos e presenciamos inúmeros momentos de dificuldades e apreensões.
A história da nação brasileira mostra esse quadro de alternância de humor e de condições: horas de euforia, horas de depressão.
Neste exato momento, nós - e quando digo nós, refiro-me ao povo -, esta grande maioria que tem vivido aos sobressaltos e refém de uma minoria detentora dos privilégios.
Explico melhor: no Brasil, desde o ano de 1500 (alguns ousam afirmar que até antes disso), o sistema sempre se baseou em divisões muito claras - reis e seus séquitos, absorvendo as benesses do poder, e os demais, carregando nos ombros a difícil missão de produzir riquezas e pagar impostos.
Ao longo dos séculos, ocorreram diversas modificações na forma de governar: trocas de nomes, reinados, ditaduras, presidencialismo. Mas o mais importante é que o sistema permaneceu exatamente o mesmo. Os privilégios continuam para poucos, e o ônus de “carregar o piano” permanece com muitos - conosco, o povo.
Essa situação, que insiste em perpetuar-se como um componente quase natural, abre os braços e acolhe a corrupção como um filho dileto, consagrando o dito popular do “jeitinho brasileiro” - ou da “terra dos vivos, pois os trouxas não sobrevivem”.
Assim, de delito em delito, sendo que sempre um maior tira o foco de um menor, seguimos assistindo à repetição da impunidade. O “mensalão”, que à época foi um escândalo de grandes proporções, hoje soa como um “traque de pulga” diante da grandiosidade dos “desvios na Petrobras”.
Apesar da prática antiga e reiterada de achacar verbas públicas, continuamos a conviver com leis brandas e permissivas, sem um poder efetivo para coibir os chamados “crimes do colarinho branco”. Ao contrário, essas leis acabam por evidenciar que, no Brasil, o crime compensa - e a obrigação de “pagar o pato” é uma tarefa reservada a nós, o povo.
Basta analisar as duas últimas grandes roubalheiras - os abomináveis mensalão e desvios da Petrobras. O primeiro foi um “estouro” de grandes proporções, muito se roubou. E daí? Alguns corruptos foram condenados, não devolveram “necas” do que roubaram e, o que mais dói, já estão soltos, desfilando de braços erguidos, com postura de heróis.
Quanto aos desvios da Petrobras, o episódio ainda não terminou, mas já cheira mal e tem gosto de pizza. Inventaram a delação premiada, prazos, recursos, foro privilegiado e outras tantas artimanhas permitidas por leis porcas. E, usadas com habilidade por competentes profissionais do direito, logo produzirão mais uma injustiça - com novos ladrões desfilando como heróis.
Somente uma coisa não muda: a conta será paga por nós, o povo.
Artigo publicado em 06/03/2015


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