COLUNISTAS
Neurodivergência e inclusão: o caminho sendo trilhado 07/11/2025
A discussão sobre a inclusão de pessoas neurodivergentes - termo que abrange indivíduos com condições como Transtorno do Espectro Autista (TEA), TDAH, dislexia, entre outras - tem ganhado força no Brasil, e nada mais justo que isso. No entanto, entraves burocráticos, lacunas legislativas, desafios estruturais e até limitações impostas por planos de saúde ainda se apresentam como obstáculos a serem superados.
O QUE É NEURODIVERGÊNCIA
O conceito de neurodivergência surgiu na década de 1990, pela socióloga australiana Judy Singer, para descrever variações neurológicas naturais da mente humana. Em vez de patologizar condições como o autismo ou o TDAH, a ideia é reconhecer que existem diferentes formas de pensar, aprender e interagir com o mundo - todas legítimas.
No Brasil, o termo ainda é pouco difundido, mas começa a ganhar espaço fora dos círculos acadêmicos e ativistas, sendo cada vez mais discutido em áreas como a educação, o mercado de trabalho e as políticas públicas.
AVANÇOS LEGISLATIVOS:
UM MARCO EM CONSTRUÇÃO
Nos últimos anos, o país tem avançado no reconhecimento dos direitos das pessoas neurodivergentes. Um dos principais marcos é a Lei nº 14.254/2021, que institui a Política Nacional de Atenção à Pessoa com TDAH e à Pessoa com Transtorno do Espectro Autista. A norma estabelece diretrizes para diagnóstico precoce, acesso a terapias, inclusão escolar e capacitação de profissionais da saúde e da educação.
Outro avanço em debate é o Projeto de Lei 82/2025, que propõe equiparar pessoas neurodivergentes a pessoas com deficiência, desde que atendam aos critérios da Lei Brasileira de Inclusão (Lei nº 13.146/2015). O objetivo é garantir acesso a direitos como atendimento prioritário, cotas em concursos públicos, adaptações no ambiente de trabalho e proteção contra discriminação.
INCLUSÃO ESCOLAR: ENTRE
O PAPEL E A PRÁTICA
A educação é um dos campos mais desafiadores para a inclusão de neurodivergentes. Embora a legislação brasileira assegure o direito à educação inclusiva, a realidade nas escolas ainda está distante do ideal.
De acordo com o Censo Escolar de 2024, mais de 600 mil estudantes com TEA estavam matriculados na rede pública. No entanto, muitos enfrentam salas superlotadas, ausência de professores especializados e falta de recursos pedagógicos adaptados.
MERCADO DE TRABALHO: BARREIRAS INVISÍVEIS
No ambiente corporativo, a inclusão de neurodivergentes ainda é incipiente. Embora algumas empresas já desenvolvam programas de diversidade, a maioria não está preparada para acolher profissionais com diferentes perfis cognitivos.
Especialistas apontam que a falta de informação e o preconceito são os principais obstáculos - e que a mudança precisa começar pela cultura organizacional. É fundamental compreender que neurodivergência não é sinônimo de incapacidade, mas de diversidade.
O PAPEL DA
SOCIEDADE E DA MÍDIA
A construção de uma sociedade inclusiva passa também pela forma como falamos - ou deixamos de falar - sobre o tema. A mídia exerce papel essencial na desconstrução de estigmas e na promoção de representações positivas. Campanhas de conscientização, reportagens educativas e a presença de pessoas neurodivergentes em espaços de fala são estratégias fundamentais para ampliar o debate e fomentar empatia.
PANORAMA GLOBAL:
A NEURODIVERSIDADE
NO MUNDO
Estima-se que entre 15% e 20% da população mundial seja neurodivergente - o equivalente a cerca de 1,6 bilhão de pessoas. Esse número supera o total de indivíduos com diabetes (830 milhões) e até o de falantes de espanhol (600 milhões). As principais condições incluem:
•Autismo: 1 em cada 100 pessoas
•TDAH: 5% a 7% das crianças
•Dislexia: até 10% da população
•Altas habilidades/superdotação: ainda subnotificadas
Esses dados evidenciam a urgência de políticas públicas que reconheçam e acolham a diversidade cognitiva.
CAMINHOS POSSÍVEIS - E
DOS QUAIS NÃO PODEMOS
RETROCEDER
A inclusão de pessoas neurodivergentes exige mais do que leis: requer investimento na formação de profissionais, adaptação de ambientes, escuta ativa das famílias e, acima de tudo, mudança de mentalidade. Como sociedade, temos o dever de garantir que todas as formas de pensar e existir tenham espaço, dignidade e voz. No Ensino Superior, essa pauta também vem sendo fortalecida por meio de ações institucionais que asseguram a permanência, a acessibilidade e a participação de todos, independente de suas particularidades.


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