COLUNISTAS

Este não é o Brasil que queremos 28/11/2025

O momento vivido pelos brasileiros é, de fato, de apreensão. O medo parece ter tomado o lugar da esperança - aquele sentimento tão característico do nosso povo e que, hoje, poucos ainda insistem em conservar.
Há quem afirme, sem receio de errar, que o Brasil sonhado existe apenas no artigo 5º da nossa Constituição, onde está escrito: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade e à propriedade”.
Se este artigo fosse respeitado e cumprido em sua plenitude, viveríamos, sem dúvida, na tão desejada “terra dos sonhos”.
A realidade, porém, está muito distante disso. O país parece ter se transformado na “terra do quem pode mais chora menos”, terreno fértil para a equivocada “lei de Gerson”, onde o objetivo é sempre “levar vantagem em tudo”. Aqui, alguns podem tudo; à maioria sobra o nada. É o território onde o corporativismo se fortalece e faz história.
Esta situação - construída ao longo do tempo - é fruto da má gestão da coisa pública, de uma política equivocada, guiada quase sempre por interesses pessoais ou de grupos específicos. Muitos parecem esquecer que o exercício de uma função pública deve ter como norte o bem coletivo.
O diagnóstico desse mal é simples, assim como a receita para a cura: transformar a política e recuperar seu verdadeiro propósito, como ensina o velho adágio popular: “Servir através da política e nunca servir-se da política”.
É claro que existem políticos éticos e honestos. No entanto, a impressão que chega ao povo é que uma imensa maioria não compartilha desses valores. Para muitos, a política virou palco de corrupção, um mecanismo para construir fortunas e garantir privilégios próprios ou aos seus.
Leis não faltam no Brasil. Algumas são boas, outras nem tanto. O grande problema está na interpretação - quase sempre benéfica aos mais fortes e prejudicial à grande maioria, que é quem paga a conta.
No serviço público, onde se deveria encontrar o exemplo maior de cumprimento da Constituição - especialmente do artigo 5º - o que se vê muitas vezes é o contrário. A expressão “independência dos poderes”, com a qual todos concordamos, tem sido utilizada de forma distorcida. A independência deveria pressupor liberdade, responsabilidade e ética no exercício das funções.
Entretanto, o termo vem servindo, em muitos casos, para justificar e perpetuar privilégios absurdos.
 
Artigo publicado em 28/02/2025

Outras colunas deste Autor